Algumas pessoas depositam sobre o mundo um olhar-lapiseira. Elas veem as coisas com insegurança, fragilidade. São lembranças fáceis de apagar: O almoço de ontem, a ida ao banco no quinto dia útil do mês, um domingo qualquer da adolescência. São relações que podem quebrar a qualquer momento, basta um esforço maior das mãos ou dos olhos. Palavras pesadas não se escrevem a lápis. A grafite 0,3mm não suporta nosso Adeus, a 0,5 não aguenta outra Desavença, a 0,7 se desfaz ao tentar esboçar uma nova Despedida e a ponta 0,9 se desaponta ao enfrentar mais uma vez a sua Ausência.
Outras contemplam a vida com uma mirada-bico-de-pena. Enxergam de forma mais delicada o passar do tempo. No entanto, sabem que tudo pode se desmanchar em milésimos de segundo. Basta um pingo de lágrima, uma gota de mágoa e – plaft! – tudo some: O nanquim se desfaz em fim e, com ele, partem as primeiras paixões, os caprichos infantis, os últimos românticos. São esses olhos tristonhos que escrevem elegias e serestas. É preciso ter mãos leves, porém firmes, para escrever Amor ou Saudade.
Conheço também as que têm uma visão-esferográfica dos acontecimentos. São mais resistentes. Aguentam as situações mais adversas. Deixam marcas mais profundas. Suportam lágrimas, despedidas, ausências, amores. É com esse olhar que devemos escrever Perdão.