Inverno, Saudade
Papel, caneta, mesa,
minhas mãos, meu pensar.
Não desejo o vacilar do sorriso,
nem perder o legado da alegria.
O inverno me cobre de saudade,
interminável, seco, estéril.
Coração arde, aprofunda,
raízes misteriosas.
Recordações, fatos primaveris,
descobertas, flor amarela, singela.
Temperatura silenciosa, névoa fria.
Círculo de doçuras, travessuras,
vida minha, frio, olhos indeléveis.
Umidade, roupão, agasalho, prendas,
caminho em túneis de saudade.
Fascina-me recordar.
Casa, música, ruas, portões,
jardins, flores, escadas, cristais.
Oceano, distância, algas, sargaços.
Enfim... encontro-as.
Vou soprar-te o coração.
Mergulho fundo... nossas cartas!
Mistério insondável, paixão.
Leio-as...
Delicada, vacilante, sem pranto.
Trêmula e obstinada, sinto-te.
Substância amada.
Gira a noite...
Sonhos destroem as trevas.
A sorrir levemente,
beijo em tua boca a saudade.
Ana Maria Marya
22/07/2008
Ita/Ba/Brasil
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