Goteiras da vida
Pesada e forte cai a chuva.
Grossos pingos escorrem
a juntar-se a outros, mais outros,
no vidro da minha janela.
Campo encharcado.
Aprendi a lavrar, colher,
sentir nas mãos a massa da vida.
Terra molhada, perfume adocicado,
mistério manso, agreste.
Sinto crescer minha volúpia,
aflora minha pele, insensatez.
Quero ver-te agora, sorrir,
desafiar a natureza, beleza.
Floresta tropical, nada banal.
Estou atenta aos ruídos,
quero proteger-te da atmosfera,
sentir-te no mais profundo,
atingir tuas vibrações. Imperceptíveis.
Noite a chegar, silêncio.
Estou atenta aos ruídos,
sou felina, mulher, menina.
Deslizo na coragem, no prazer.
Enlouqueço na paciência.
Arrebento-me!
Estúpido vazio azul!
A chuva continua...
Fecho a cortina,
Acendo a luz...
Recordações estranhas,
fantasmas,lirios-do-brejo,
guarda-chuvas,roupas molhadas.
Impaciência do tempo.
Vazio, cicatriz, marcas, doçuras.
Goteiras da vida.
Goteiras de uma vida!
Ana Maria Marya
O3/07/2008
Ita/Ba/Brasil