Melian é uma Maia, vassala de Vána e de Estë. Seu nome significa “presente querido”. Viveu muito tempo em Lórien, cuidando das árvores do jardim de Irmo. Ela era a mais bela, sábia e hábil em canções de encantamento dentre todos os de seu povo. Diz-se que, no momento em que as Duas Árvores de Valinor misturavam suas luzes, os Valar paravam seu trabalho, os sinos se calavam e as fontes paravam de jorrar para ouvi-la cantar. Melian teria ensinado o canto aos rouxinóis que sempre estavam a sua volta, onde quer que ela fosse. Ela tinha um parentesco com a própria Yavanna. Mais tarde, Melian se tornaria esposa de Elu Thingol, rainha de Doriath e mãe de Lúthien Tinúviel.
No momento em que os elfos despertaram, Melian partiu de Valinor para a Terra-Média e preencheu o silêncio de seus bosques com a sua voz e as de seus pássaros. Acontece que Elwë, senhor dos teleri, costumava atravessar essas regiões para visitar seu amigo Finwë nas moradas dos noldor. Um dia, quando estava sozinho no bosque de Nan Elmoth, sob a luz das estrelas, ele ouviu o canto de rouxinóis e caiu em um encantamento. Ao distinguir a voz de Melian, sentiu um profundo desejo em seu coração e esqueceu-se de seu povo e objetivos, embrenhando-se na mata até encontrá-la. Elwë viu a luz de Aman em sua face e, dominado pelo amor, segurou sua mão. Longos anos se passaram até que eles se movessem ou dissessem palavra. Assim, Elwë nunca voltou a Valinor e passou a viver com Melian nos bosques, fundando mais tarde um reino e fazendo da Maia sua rainha.
Os ensinamentos de Melian fizeram com que o povo de Doriath se tornasse o mais belo, sábio e habilidoso dentre todos os povos élficos da Terra-Média. Sob o seu poder, havia vida e alegria em Beleriand. E foi no final da primeira era, quando Arda estava em paz, que veio ao mundo sua única filha, Lúthien. E a princesa de Doriath era a mais bela dentre todos os filhos de Ilúvatar. Se a beleza de Melian era como o meio-dia, a de Lúthien era como o alvorecer da primavera.
Como Melian podia prever acontecimentos futuros, assim que Melkor foi liberto, ela avisou ao Elu Thingol que a paz não duraria para sempre. Assim, eles decidiram construir uma fortaleza para os dias em que o mal voltasse a atormentar a Terra-Média. Menegroth surgiu com a ajuda dos anões de Belegost e era, conforme imaginado por Melian, a própria imagem da maravilha e beleza de Valinor. Com o passar dos anos, juntamente com suas servas, a Maia encheu os salões com tapeçarias sobre os feitos dos Valar, o início dos tempos e alguns acontecimentos que ainda estavam por vir.
Depois da destruição causada em Valinor e de sua luta com Melkor, Ungoliant se refugiou próximo ao reino de Thingol e só não conseguiu ir mais além porque foi impedida pelo poder de Melian. Então os orcs começaram a investir contra os elfos, e depois de uma triste batalha, o rei Thingol convocou todo o povo que pôde alcançar e Melian cercou o território ao redor do reino com uma muralha invisível de sombras e desorientação: o Cinturão de Melian. Essas terras passaram a ser conhecidas como Doriath, o reino protegido, e ninguém poderia adentrar contra sua vontade, a não ser que fosse dotado de um poder ainda maior do que o dela.
Com a chegada dos noldor, Galadriel, que era parente de Thingol, passou a viver com Melian, adquirindo conhecimento e sabedoria. Às vezes as duas conversavam sobre Valinor e a felicidade de antigamente. E foi durante uma dessas conversas que Melian ficou sabendo sobre as Silmarils, a vingança almejada pelos noldor e o desagrado dos Valar. Ela alertou Thingol para que tomasse cuidado com os filhos de Fëanor, pois sabia que alguma desgraça pairava sobre eles.
Depois do despertar dos homens, Melian previu que um deles, pertencente à casa de Bëor, chegaria ao seu reino e nem mesmo o Cinturão poderia impedi-lo, pois um destino maior do que o seu poder o estaria enviando e muitas histórias surgiriam disso. Assim, tempos depois, Beren atravessou a barreira e chegou ao reino de Thingol, avistando Lúthien, por quem se apaixonou imediatamente. Sabendo do destino que os esperava, Melian aconselhou Thingol a agir com cautela e não se deixar levar pela ira. E quando o rei propôs a Beren o desafio de lhe entregar uma Silmaril para que pudesse desposar sua filha, Melian observou que ele estava atraindo para si a maldição que cercava as pedras e passou a negar-lhe seus conselhos.
Quando Beleg Cúthalion voltou a Menegroth com notícias de Túrin, que havia sido criado como um filho pelo rei Thingol e Melian, o rei lhe concedeu o presente que desejasse. Beleg escolheu a espada Anglachel. Apesar do aviso de Melian sobre a maldade contida na lâmina, ele insistiu em levar aquela que se tornaria seu algoz. A Maia, porém, lhe ofereceu outro presente valioso: lembas, cuja guarda e doação cabiam exclusivamente a rainha.
Melian também manteve como hóspedes Morwen e Nienor, mãe e irmão de Túrin, respectivamente. Quando as duas partiram em busca de Túrin, recusando seus conselhos, ela muito se entristeceu. Além disso, a Maia ajudou Húrin a se livrar da influência de Morgoth que permanecia em sua mente e enxergar a verdade sobre o que havia ocorrido à sua família.
Mais tarde, o destino de Thingol que já havia sido previsto por Melian, veio a se cumprir. Recebendo o Nauglamír de Húrin, o rei decidiu unir a Silmarillion ao colar e acabou sendo assassinado pela cobiça dos anões que empregara nessa obra. Depois da morte do rei, houve uma profunda mudança em seu interior. Ela havia assumido a forma de elfo por amor ao Thingol, porém nada mais restava que lhe prendesse à Terra-Média. Dessa forma, ela retirou a proteção de Doriath e partiu de volta para os jardins de Lórien, onde poderia refletir sobre sua tristeza.
No início de sua criação, Tolkien definia Melian como uma fada, o que foi mudado em versões posteriores. É interessante observar que ela foi a única dentre os Ainur a se casar com um elfo em toda a história da Terra-Média, e também a única a ter um filho. A história de amor de Melian e Thingol é uma das mais bonitas entre as retratadas pelas obras de Tolkien.