CATARINA







Catarina soube que os seus pais queriam se separar. Então, a alegria pela vida terminou para aquela criaturinha, que estava começando a viver. Mas ela tinha esperanças que aquela separação não iria acontecer.
A triste menina, que, já, em tão pouca idade sofria, dirigiu-se ao pai e pediu, quase em lágrimas:
Pai, não vá embora. Eu gosto muito de você. Fique comigo.
__ Filha, eu tenho que ir. A sua mãe já não me quer. E eu já não a amo, como antes.
__ Mas vocês me amam, ou não? Fique por mim, papai.
__ Você vai se acostumar com a situação, querida. É tão normal casos assim. Eu não estou abandonando você. De vez em quando eu virei busca-la para passearmos, juntos, aonde você quiser.
E, mais tarde, no colo da mãe, Catarina chorando, pediu:
__ Mamãe, fala com o papai para ele ficar. Eu não consigo imaginar a minha vida longe de qualquer um de vocês.
__ Filha, deixe o seu pai viver a vida que ele prefere para si. Eu também prefiro assim. Nós já não nos amamos mais.
__ Mas, mamãe!
E eu? Como é que eu fico? Papai disse que, de vez em quando, vem para passear comigo. Ah! Eu prefiro vê-lo, aqui, dentro de nossa casa.
Ele, perto de você e eu, perto de vocês dois.
__ Filha, conforme-se. Eu se pai amamos você. Mas essa separação será boa para nós dois, e, se você for compreensiva, não será tão ruim para nenhum de nós.
__No dia seguinte, após uma noite mal dormida, onde os momentos de sono foram ocupados por pesadelos, causados pela expectativa da ausência do pai, ao acordar, Carolina dirigiu-se aos dois, que conversavam na cozinha, talvez, acertando os detalhes da separação, surpreendendo-os com a revelação:
__Eu vou embora. Vou deixar vocês. Só assim vocês eu evito que vocês se separem.
__Filha, não seja tola. Você não tem idade suficiente pra tomar tal decisão, disse a mãe.
__Querida, não adianta você fazer ameaças. Eu sinto muito. Nós a amamos, mas é coisa resolvida, completou o pai.
Vá se arrumar, pediu a mãe. Está chegando a hora de você ir para a escola.
Quando, mais tarde, Catarina voltou da escola, encontrou o pai arrumando as suas coisas, pois sairia no dia seguinte. Foi para o quarto e, lá, ficou rezando, pois ela, segundo sempre dizia, conversava com Deus. Só saiu de lá, quando a mamãe a chamou para tomar banho e jantar. Pouco comeu, pouco falou. Levantou-se e, antes de voltar para o quarto, disse:
Papai do Céu disse que chegou a hora de eu me despedir de vocês. Tenho que ir embora. Mas Ele disse que eu vou voltar e nós três seremos felizes para sempre.
Filha, que absurdo! Não diga mais isso, repreendeu a mãe.
__Meu bem, vai dormir. Deus a abençoe, completou o pai.
E que ilumine vocês, emendou a menina.
No dia seguinte, estranharam que ela não tivesse, ainda, levantado, àquela hora, com sempre acontecia. Foram, então, ao seu quarto acorda-la para o café e para arrumar-se para a escola e, desesperados, constataram que Catarina cumprira a sua promessa. Já não vivia. Tinha ido embora. E, diante do corpo inerte de sua querida filha, o casal descobriu o quanto era importante para Catarina a união dos dois e, também, o quanto eles se amavam.
E, unidos por essa dor e pela saudade da filha, continuaram juntos. Não conseguiam ser felizes, grande era a tristeza e amargo o remorso, pois se sentiam culpados por aquela dolorosa perda.
Viveram infelizes, mas juntos, por alguns meses. Até que, um dia, a mulher soube que estava grávida. Feliz deu a notícia ao marido e, os dois, agradeceram a Deus aquela benção.
Uma nova felicidade estava surgindo para eles. Nada devolveria a perdida felicidade que lhes dera a filha que se fora, mas o vazio que ficara com sua partida, seria substituído por um novo ser.
E a criança veio ao mundo. Era uma linda menina, a quem deram o nome de Catarina, em homenagem a sempre saudosa filha.
Que interessante! Descobriram que havia uma grande semelhança entre a filha que nascera com a outra que, tão precocemente, se fora. Era como se a menina morta tivesse nascido outra vez.
Com o passar do tempo, agradeciam, cada vez mais, a Deus por ter-lhes dado aquela menininha, tão parecida com a filha ausente.
Uma noite, justamente na data em que a filha primeira se fora, ou quem sabe, se à mesma hora, acordaram com gritos da menina que dormia.
Correram até seu quarto, ainda a tempo de entenderem o que dizia:
Mamãe! Papai! Sou eu! Papai do céu me fez voltar pra vocês. Estou tão feliz.
E, aos pés de sua cama, o casal rezou, agradecendo a Deus aquela felicidade. Não mais sentiriam saudades da filha querida que, como prometera, tinha saído de suas vidas. Agora sabiam que ela estava ali. Voltara para eles, como, também, tinha prometido.
Ela que partira para evitar a separação, voltara, agora, para consolidar e eternizar a união entre os dois.
Catarina e seus pais, viveram felizes para sempre.




Ademir garçon
Publicado no Recanto das Letras em 17/01/2011
Código do texto: T2735395