Cinzas de saudade
Contemplo o mar,
Onde sonhávamos,
De mãos dadas a andar,
Nessa imensidão de praia,
A sentir o ranger da areia.
Sob nossos passos.
Recordações, levantar de ondas,
Movimento de ir e vir intermitente.
Amizade grande, envolvente, quente.
Eu acreditava vivenciar, para sempre.
Salinas, saveiro ancorado,
Muro de musgo, cabana de praia,
Meu mar, em renda a se espalhar,
Nas águas do tempo viver estacionado.
Sonhos vazios.
Não mais trarás as rosas,
As flores campestres, os jasmins.
Fechastes teus olhos para mim.
Pediste-me que saísse. Tua sentença.
Saísse do teu olhar, da tua presença.
Sigo, sigo os suaves sinais sem rumo,
Sigo as águas, saio, vou embora.
Mergulho profundo,
Não há momento nem hora.
Tenho a flora dos sonhos,
Gama de cores, flores.
Adeus amizade companheira.
Adeus noites do sorrir sem angústias,
Sem crueldades, incredibilidades.
Não mais existo, queimo, sou cinza.
Línguas de fogo prepararam a noite,
Queimaram-na!
Macularam, conspurcaram!
Macabro açoite.
Nada mais agora, espaço escuro,
Do sonho, do passado, não há futuro.
Apenas o pó, as cinzas.
Alegria, música, sorriso, felicidade,
As chamas levaram, deixando apenas,
Um amontoado de cinzas de saudade.
© Ana Maria Marya
24/09/2007
Ita/Ba/Brasil