A voz do silêncio
© Virgínia Lima
Silenciam-se as vozes
E gritam os pensamentos,
Encontram-se as almas
Com os agridoces momentos
Navega-se pelo mar do dia
Salgado é o silêncio,
Teve ou não alegria?
Foi mais ou menos intenso?
Não se volta a repetir,
Seja mau ou seja bom
Constante é o devir
Deste contínuo sentir
Só ele tem este dom.
Chama a noite, vou dormir...
Dormir no silêncio suave.
Silenciam-se as vozes.
Gritam os pensamentos
Encontram-se as almas
no silêncio total.
Só escutam-se:
A voz do silêncio!
© Virgínia Lima
Quer saber como eu sou para me aceitar?
© Clarice Lispector
“Quer saber como eu sou para me aceitar?
Vou me fazer conhecer melhor por você.
Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso
poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdôo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.
Sou paciente mas profundamente colérico,
como a maioria dos pacientes.
As pessoas nunca me irritam mesmo,
certamente porque eu as perdôo de antemão.
Gosto muito das pessoas por egoísmo:
é que elas se parecem no fundo comigo.
Nunca esqueço uma ofensa, o que é uma verdade,
mas como pode ser verdade, se as ofensas
saem de minha cabeça como se nunca nela
tivessem entrado?
(...) Tenho uma paz profunda (...)
somente porque ela é profunda e não pode ser
sequer atingida por mim mesmo.
Se fosse alcançável por mim, eu não
teria um minuto de paz.
Quanto à minha paz superficial, ela é uma
alusão è verdadeira paz.
Outra coisa que esqueci é que há outra
alusão em mim – a do mundo grande e aberto.
(...) apesar do meu ar duro, sou cheio de
muito amor e é isso que certamente me dá
uma grandeza, essa grandeza que você percebe
e de que tem medo.”
© Clarice Lispector
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