O nome dela era Karina Chikitova.
Vivia com a mãe numa aldeia isolada da região de Irkutsk, onde as casas são separadas por vastos trechos de silêncio e árvores.
Naquela manhã, viu o pai entrar numa carrinha — e, sem que ninguém notasse, correu atrás dele, com sua cadela Naida a seguir-lhe os passos.
Mas o pai não a viu. E Karina entrou na floresta…
E nunca mais voltou para casa.
Durante dias, o pior não foi o frio, nem os lobos, nem a fome.
O pior foi o mal-entendido.
A mãe achava que Karina estava com o pai. O pai, com a mãe.
Foram quatro dias até perceberem que a filha estava sozinha, no meio da floresta siberiana, uma das mais hostis do planeta.
A busca foi desesperada: helicópteros, drones, homens armados com mapas e lanternas.
Mas quem a salvou…
não foi o exército.
Foi sua cadela.
Naida ficou ao lado dela por 12 noites.
Aqueceu seu corpo frágil com o próprio calor.
Cavou buracos na terra para escondê-la do frio e dos predadores.
Cobriu-a com folhas e arbustos.
Velava seu sono como uma sentinela silenciosa, enquanto Karina se alimentava de bagas e bebia água dos riachos.
No 12º dia, Naida desapareceu.
A famÃlia temeu o pior.
Mas ela não fugiu — foi buscar ajuda.
Apareceu na aldeia suja, fraca e desesperada…
E levou os resgatadores até o esconderijo que construÃra para proteger a menina.
Encontraram Karina desnutrida, coberta de picadas, pesando apenas 10 quilos.
Ela não falou.
Não gritou.
Apenas estendeu os bracinhos, abraçou o primeiro agente… e chorou.
Sobreviveu.
Contra todas as probabilidades, sobreviveu.
Hoje, à frente do aeroporto de Yakutsk, ergue-se uma estátua.
“A Menina e o Cão.â€
Não é apenas uma homenagem ao instinto de sobrevivência de uma criança.
É um tributo à lealdade de uma cadela que se recusou a abandonar quem amava.
Naida não era só uma cadela.
Era abrigo.
Era calor.
Era amor em forma de coragem.
Na floresta gelada, quando ninguém mais sabia onde ela estava,
Karina não estava sozinha.
E por isso, está viva.