Não é verdade que se trabalhares muito vais conseguir. Não é verdade que vai correr tudo bem. Não é verdade que os maus são castigados no fim, nem que os filhos da put@ são apanhados — a maior parte deles morre rica e bem acompanhada.
Não é verdade que todos podemos realizar os nossos sonhos — a maior parte de nós nem chega a formulá-los bem. Trabalhamos, comemos, cansamo-nos, vamos morrendo entre facturas, filas, reuniões onde nos esquecemos por que entrámos.
Temos esta porra desta vida para viver. Este monte de trapos, este remendo de dias, esta soma de dores nas costas, no peito, na alma. Temos de fazer disto a nossa pândega, o nosso forrobodó privado, o nosso baile decadente. Se não dançarmos, estamos tramados. Não há segunda hipótese. É aqui, no meio desta lama, desta confusão, desta solidão partilhada, que ainda se pode encontrar um lugar. Um lugar onde se come bem, onde se ri de verdade, onde alguém nos toca o ombro e fica só ali, sem dizer nada. Um canto de humanidade precária, mas viva. Um intervalo de beleza sem agenda.
É nesse lugar que quero estar, é nesse intervalo que quero sobreviver. Já desisti da plenitude, do êxito, da verdade redonda. Quero o possÃvel, o que sobra: a gargalhada que sai no meio do choro, o pão com manteiga à s três da manhã, o toque na mão antes do diagnóstico. Quero o que é pequeno, e salva.
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O HOSPITAL DE ALFACES
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