Pacto de morte
Não gosto dela,
Da morte.
Ela é uma velha ranzinza,
Em sua indumentária negra ou cinza,
Misteriosa demais,
Insensível demais,
Injusta, absurda,
Sem critérios,
Cega e surda.
A vida,
Esta é uma criança ingênua,
Com birra e alegria genuína
Em chinelos de couro,
Vai seguindo faceira menina,
Vestida de sol no estampado de flores,
Ou nua,
No prateado da lua,
Ou ainda, no salto alto, com estrelas bordado a ouro.
Trás agradáveis surpresas,
Em sua bolsa de mão,
Às vezes nem tão agradáveis assim.
Imprevisível e dada a mistérios,
Com rompantes de alegrias e tristezas.
Ódio e paixão.
Risos, dores,
Rancores e amores,
A vida é desejada, amada, até o fim.
Na verdade, são muito parecidas,
Gêmeas siamesas inseparáveis.
A diferença é que a vida mostra a cara
E permite ser moldada
Aceita desculpas,
Perdoa,
Reinicia,
Cai e levanta.
A morte não.
Ela é traiçoeira,
Com seu riso de ironia,
Sem eira e nem beira,
Só aparece uma vez
Quase sempre inoportuna.
E, sem perguntar a opinião,
Arranca-nos do chão
E nos leva para um lugar
Onde a gente não queria.
Quero fazer um pacto:
À vida, prometo viver
A cada dia buscando crescer
Amar e me doar.
Em troca eu quero
Que a morte espere eu cansar.
E quando vier, com seu cetro de rei,
Deixe-me vê-la primeiro, do céu ao chão,
Olhar na sua cara e cumprimentar.
Então, prometo que a perdoarei
E vou lhe estender a mão
Para que me conduza aonde ela desejar.
Lídia Sirena Vandresen (20.02.08)
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