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O mal
Pela janela da minha prisão
Contemplo o palco dos condenados.
Acotovelando-se em multidão,
Risos, cochichos e olhares excitados.
Eles querem meu sangue como corvos famintos,
Nos meus olhos estatelados, realizam seus instintos.
Procuram melhor ângulo para tudo observar,
Na forca, um homem desesperado a lhes implorar.
Na sombra da morte, finalmente reinará a saciedade
Corpos vibrantes com a cena que os alucina.
É a mancha negra incrustada na alma da humanidade
Ou apenas a força da adrenalina?
Teatro que exalta o bem ou alimenta o mal?
Ao esmagar a cabeça da cobra venenosa,
Não se vê emoção tão poderosa.
O que os atrai, é a magia da morte, afinal!
A força inconsciente do mal latente no coração.
Que se agiganta ao ver o semelhante fenecer,
Na agonia da morte, sem perdão, sem compaixão,
No gosto da vingança, em nome da justiça, o prazer.
Já com o pé no patíbulo, uma vasta refeição,
Palavra divina, último desejo (onde ficou o primeiro?), oração...
Negadas as migalhas de atenção e alimento na vida,
Na morte, ironia, por “sorte”, ela me é oferecida...
Já ouço os passos pesados do carrasco que busca
O astro principal desta fatídica encenação.
Não haverá aplausos sob meu olhar que se ofusca
Para o ator sem amor, só desprezo e condenação...
Lídia Sirena Vandresen (19.02.08)
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