Pudesse a alma ser de novo construída para evitar o que o coração sente.
Pudesse a alma mudar como muda o corpo rapidamente.
Pudesse eu ser uma pessoa diferente e sentir as coisas de outra maneira
ou mesmo deixar de as sentir completamente.
Pudesse eu ser apenas eu e não trazer debaixo da pele quem está ausente.
Pudesse eu despir-me dessa verdade que o tempo me confirma porque a alma não tem idade
nem as horas que passam desfazem a sua verdade íntima.
Pudesse eu deixar de ser o que me tão essencial e arrumar o desassossego que,
apenas em mim, resiste como pele da minha pele. Pudesse eu viver pela metade e,
não sendo inteira, resistir sem dor ao coração vazio e à alma perdida.
Pudesse eu ser ser um corpo ausente de sentimento como princípio de vida.