Lá em cima, onde o espaço é infinito e o sol nunca dorme,
as nuvens tomam a forma da nossa imaginação.
Posso imaginar apenas massas de ar ou inventar-lhes contornos
e uma história para contar, em que tudo pode acontecer,
ou talvez nada como numa pintura abstracta.
Vejo o que quero ver, às vezes vejo fantasmas,
projecções de medos difusos que não consigo nomear.
Cá em baixo, as nuvens são diferentes, umas vão e outras ficam,
indiferentes às estações do ano.
Umas são reais, outras nem por isso.
São momentos, uns felizes outros não.
Vemos o que queremos, tanto bom como mau.
Nem sempre os olhos são justos, nem sempre compreendem a paisagem.
Às vezes vivemos às escuras e teimamos em nada ver simplesmente.
O coração sei que vê para além das nuvens,
mas nem sempre confiamos o suficiente para olhar de frente
e abraçar a claridade - ficamos parados a inventar fantasmas
maiores do que o céu que não tem fim.