Meu coração já foi partido em tantos pedaços que me pergunto se ainda resta um canto que ainda não tem o nome de alguém. Falar isso é um jeito bonito de dizer que o amor encontrou uma forma de estar em muitos cantos ao mesmo tempo. Orquestrando Cidades como um grande coração partido, o amor vai ficando em pedaços, não porque quebrou, mas porque se espalhou, penetrou raízes, aprendeu a morar no silêncio, em pequenos entregas, micropartículas de afeto. O que fazer quando o tempo muda de ideia e nos tira amores eternos e nos apresenta amores impossíveis, e tal hora nos preenche de amores que se constrói a cada café da manhã? Eu não posso deixar meu amor em pedaços. E aí eu me pergunto: O que fazer com a coxa de crochê que minha Avó deixou inacabada? Quando o tempo dela se fez silêncio. Outras continuarão seu legado, provando que o amor encontra formas de se espalhar. Talvez o amor seja isso, essa arte delicada de continuar inteiro, deixando indelicadamente pedaços por onde passa. Rodrigo Amarante disse: "E até que me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que te encontrei." E eu não sei como pedir licença pra ele, para reescrever essa frase, dizendo: "E até quem não sabe e me vê na fila do pão, sabe que eu encontrei alguém que eu nunca esqueci." Porque mesmo partido, o amor, honra o nosso caminho, e eu fico pensando que há caminhos que só se abrem pra quem teve coragem de se deixar ficar um pouco em cada coração.

— .(Escrito dia 14/06/2025, às 23:07).