É difÃcil explicar pra quem não viveu. Não é sobre quem ele namorou, qual time torcia, o que disse ou deixou de dizer. É sobre o que ele causava. Sobre os abraços que ganhei dos meus pais e dos meus tios por causa dele. É sobre a sala da casa da minha avó cheia e os almoços repleto de primos. É sobre a bandeira do Brasil tremulando dando felicidade para um paÃs que não tinha muitos motivos para comemorar. E aÃ, se for capaz, tente imaginar que em um domingo desses, depois de tantas alegrias, depois de tantos abraços, depois de se tornar membro da nossa tradição de famÃlia, esse mesmo cara, enquanto fazia o que sempre fez, com o mundo todo assistindo, sofreu um acidente e perdeu a vida, ao vivo, na nossa frente, um pouco antes de um desses almoços de domingo. Imagina. Como que os pais explicaram essa cena para as crianças? Como foi o domingo seguinte? E todos os outros? Aquela foi a primeira vez que vi meu pai chorar. E uma das únicas. É difÃcil explicar o que foi o Senna. E também sinto que é difÃcil entender. Quem viveu sabe. E não tem como esquecer. Pra você que não teve a sorte de viver a época do Senna… Era como se todo domingo fosse copa do mundo. As famÃlias se reuniam, torciam, choravam, se abraçavam. O paÃs inteiro. E no final, quase sempre, o Brasil ganhava.
— Rafael Magalhães