O que há para além do "Colocar-se sempre em primeiro lugar?" {...}

Você deve se colocar sempre em primeiro lugar - Assim dita, a sentença nos faz crer que isso seria algo inequivocamente bom. Além disso, faz supor que os demais lugares, que não este primeiro, seriam todos inferiores, menos importantes. Pouco se fala sobre as partes problemáticas dessa posição, do cansaço, do desgaste, da pressão que podem acompanhá-la. Talvez em algumas situações faça sentido privilegiar-se e em outras, não. Cabe a cada pessoa ir (re)conhecendo o que pra si é irrevogável naquele momento, como o direito intransferível à própria sexualidade, dentre outros. Colocar-se em primeiro lugar em tudo também envolve não apenas se centralizar na parte positiva, do mérito das coisas, mas também na negativa, quando nos atribuímos culpa e responsabilidade muito maiores que as devidas. O excesso de alta autoestima pode ser tão prejudicial quando o de baixa autoestima. Não se colocar em primeiro sempre não significa colocar outra pessoa neste lugar, mas repensar a própria necessidade de haver um primeiro lugar fixo, prévio e determinado. Construir lugares coletivos, espaços de convivência e concomitância talvez seja mais instigante, criativo e bonito que o apelo do primeiro lugar.

— Geni Núñez