Por que há tantos cristãos parlamentares contrários ao aborto?
Na BÃblia, em CorÃntios, afirma-se que "O corpo é templo do espÃrito santo, as pessoas não são donas de seus próprios corpos, que são propriedades de Deus, compradas por um bom preço, seu sangue".
Diz-se ainda, que a mulher não tem autoridade sobre seu próprio corpo, o marido que deve ter esse poder e vice-versa (I Cor 7:4), o que chancela inclusive estupro marital.
Até recentemente o marido era quem tinha de consentir com a laqueadura da esposa e ainda hoje persiste a ideia de que alguém não pode consentir sobre sua própria sexualidade sem pedir autorização ou perdão ao cônjuge.
Desse tipo de mandamento vem a ideia de que alterações no próprio corpo seriam um pecado diante do Deus (Cristo seria a cabeça do homem e o homem a cabeça da mulher).
Entram no combo de "Profanações": Tatuagens, brincos, cortes de cabelo, maquiagens, intervenções cirúrgicas, médicas, aborto, uso de anticoncepcionais.
Aborto seria um dos ápices disso, afinal, o corpo não é da pessoa que gera, não tendo portanto direito a intervir em si mesma.
Em seu último posicionamento, o Vaticano manteve a proibição do uso de camisinha, porque isso seria, supostamente, um impedimento para que a vida acontecesse, uma espécie de pré-aborto.
Desde 1500 o repúdio moral dos missionários era muito maior contra a liberdade sexual do que com estupro.
Crianças não são mães, mas pessoas adultas que não queiram sê-lo também devem ter direito ao aborto e esse direito não deve ser apenas em caso de estupro.
Mais do que tentar ressignificar o que a bÃblia disse, mais do que tentar achar um lado bom no cristianismo, precisamos ter a coragem de reconhecer que boa parte das violências de gênero que acontecem nesse território operam em nome dessa fé, desse amor, dessa famÃlia e salvação.
Que nossos territórios não sejam mais invadidos, da terra aos nossos corpos, pois o direito à autonomia é um direito à vida.
Geni Núñez