Eu não sei não transparecer o que sinto. Isso me atrapalha. Não sou de forçar sorriso quando o santo não bate, não sei disfarçar meu deboche, nem minha atração. Quando me pedem, olha, mas disfarça, tem o mesmo efeito de quando vão me mostrar uma foto e pedem pra eu não curtir. Se eu gosto de você, não importa o que eu fizer, você vai saber.
Embora eu diga coisas que não quero dizer, pra te fazer acreditar que sou o que quero parecer, o que sou, sempre vem à tona. Se eu não gosto, também. Me desculpe inclusive, pela tamanha falta de interesse. Não levo desaforo pra casa, mas o devolvo com classe quando ele me chega. E quando preciso muito engolir algumas emoções, você sabe, a vida de adulto tem dessas, uma confissão: Me tranco no banheiro mais próximo e trabalho algumas afirmações. Me recarrego de uma energia temporária emprestada de algum guia que me protege de cima e volto fazendo a desentendida. Meu santo é forte, e quando preciso encarno um palco, chamo DionÃsio e acelero o compasso. Mas não é sempre que ele aparece. O pior é quando o choro vem sem pedir. Tremo a boca e olho pra cima, finjo um espirro e saio de cena. Por isso mesmo o meu atual processo é estar em lugares que eu não precise disfarçar. Estar em lugares que me trazem sentimentos bonitos. Eu não sei não transparecer o que sinto. Sinto muito.