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Pelé é sinônimo de Brasil. Nunca imaginamos viver tal enterro, tal comoção. 2022 será o ano em que Pelé se despediu da humanidade. É como perder a nossa explicação de país, de onde moramos, de quem somos. Para os estrangeiros, Brasil é Pelé. Ele era o nosso visto no passaporte, nossas recomendações. Era o rei eleito pelo povo, a nossa única unanimidade, o sorriso brejeiro de quem chegou no auge e não perdeu a majestade com o desenrolar da vida. Sua carreira foi perfeita. Não existe flagrante de um tropeço, uma pisada, um descuido, um escorregão, um carrinho de Pelé. Seus olhos proféticos enxergavam o lance antes de sua consumação. Ele sabia sempre onde a bola iria cair. Ele bailava com a bola, sua parceira de dança, até que ela pousasse no fundo das redes. Há quem beije a bola, mas só com Pelé a bola retribuía e beijava de volta. Jamais existirá um outro Pelé — gênio vem, gênio se despede dos gramados e não há concorrente. Pelé elevou o patamar de excelência a um nível impossível de ser superado. Ele era um alienígena perto de qualquer mortal. O tricampeão do mundo (1958, 1962 e 1970) aprendeu a se desvencilhar dos goleiros sendo goleiro na infância. Seu apelido é uma derivação oral do Bilé, como era chamado nas peladas em Bauru pelos colegas quando atuava debaixo das traves. Talvez tenha sido um goleiro disfarçado de atacante. Talvez esse tenha sido o segredo da sua altura, transferindo aos pés a exatidão e a ciência das mãos.
Tornou-se um assombro de agilidade, elasticidade, velocidade, drible. Suas cabeçadas tinham um impulso de um arqueiro matador. Suas bicicletas tinham a coreografia de um arqueiro que trocou de lado. Ele construía pontes, viadutos, passarelas da beleza na pequena aérea. Se você não viu o Pelé jogar, tudo o que você vê de sublime no futebol veio de Pelé. Quis o destino que o atleta do século partisse logo depois da realização de uma Copa do Mundo, a maior festa do futebol. Para lembrar que esse palco sempre será dele. Se Thomas Edison inventou a lâmpada, o mineiro Edson Arantes do Nascimento inventou a luz própria. Sua camisa 10 virou luz. Nunca existiu nada parecido. E nunca existirá. Pelé foi o que ainda não é possível explicar. Traduzir. Descrever. Ilustrar. Cabe a nós, que tivemos o privilégio de viver enquanto ele viveu, tentarmos contar o que os nossos olhos viram e o que os nossos pais e avós nos disseram. A partir de hoje e para todo o sempre, essa é a nossa obrigação. Deveremos lembrar, para essa e para as futuras gerações, que o maior atleta da história nasceu aqui, no Brasil. Que o nome dele era Edson, mas que o mundo o conheceu como Pelé. O homem que mudou o jogo. E mudando o jogo, mudou o mundo. Aquele que colocou o nosso país no mapa. Que fez o pobre sorrir, o rico aplaudir, o negro triunfar e a criança sonhar. O garoto que conquistou o trono aos 17 anos e de lá nunca mais saiu. Depois dele, todos quiseram ser como ele. Fazer o que ele fez. Usar a camisa 10. Socar o ar. Driblar como driblava e sorrir como sorria. Ninguém chegou nem mesmo perto. E não tem como chegar. Tudo o que veio depois só existiu porque um dia ele aqui esteve. Conquistar 3 copas do mundo e marcar mais de 1200 gols é uma tarefa quase impossível, mas não é o mais complicado. O mais difícil é fazer isso tudo como ele fez. Com tanta classe. Com tanta arte. Com tanto talento. Não. Isso definitivamente nunca mais vai se repetir. Quem viu, viu! Vida eterna ao rei! Avisem a todos os povos que a vossa majestade descansou. Que viveu entre nós de 1940 e 2022, mas que a sua arte e a sua obra ficarão eternamente vivas. Nas telas, nas conversas de bar, no campinho de terra, na mística da camisa amarela, nos gritos das arquibancadas e em nossos corações. Dos gramados para os livros de história. O inexplicável, incomparável, inacreditável e eterno. O primeiro e único. O rei Pelé.


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