A decoração é inexistente. O quarto aparenta vazio, sem quadros. Apenas uma luz se faz presente para desejar bom-dia, talvez. Há uma figura pensativa, central, é evidente. Trata-se de uma mulher solitária acompanhada unicamente de suas tantas reflexões. Ela parece se aquecer com o breve sol matinal para quem sabe, esquecer-se também um tiquinho nesse caos que nos cerceia diariamente. Os raios tecem uma espécie de casaco invisÃvel, natural. Só os pensamentos parecem movê-la o que se passa na sua mente? Será que desdobra suas ideias sobre as mazelas da modernidade? Mas ela ainda sonha, será? Ela está imóvel. (Aliás, é uma caracterÃstica marcante: o ser se torna um móvel imóvel). Ela ignora, inclusive, o observador: Você, o restante da humanidade.
Tudo é tão aqui dentro: A pintura de um sentimento. No casulo da sua casa, o aperto (angústia?) aperta menos. Ela se sente protegida, apesar de tudo se apresentar turvo. Ela está encolhida, acolhida por sua própria força: amor-próprio? A janela aberta ganha a dimensão de um pulmão, de um órgão vital. Um respiro necessário nesse sufoco ordinário. Como se a cidade grande fosse um espelho para a sua pequena solidão. E vice-versa. Ela também não seria uma espécie de reflexo dessa metrópole? Afinal, quem ela está encarando? A ventana? A própria alma? Nunca saberemos. A fenestra surge como se fosse o segundo personagem da tela. Incita um diálogo. Um silencioso diálogo…
Lá fora, o cotidiano segue sua rotina infalÃvel de estragar o mundo. A cidade industrial continua. As usinas não param. A fumaça é nosso novo oxigênio. Triste cenário. Mas, por mais inquieta e melancólica, mesmo com a invasão do arrependimento e o desespero. Há uma calma escondida. E é nela que devemos nos apegar para não apagar o que temos de mais potente: A capacidade de recomeçar.