A sala é ampla. Grandes janelas com cortinas brancas, móveis
modernos, quadros na parede, um grande sofá feito de couro marrom ocupa a parede
esquerda da sala e, em frente dele, um moderno aparelho de televisão. Do lado
direito uma estante de madeira de lei lotadinha de livros. Livros de todos os
assuntos: romances, ciência, religião, poesias, técnicos, didáticos, histórias
infantis e etc.
Enquanto eu visitava a sala com os olhos da minha imaginação,
entrou uma menina, de mais ou menos nove anos, sentou-se no sofá e ligou o
aparelho de televisão. Ficou sentada vendo as imagens de um desenho carregadas
de violência. Eu pensei:
- Que pena! Nada a acrescentar ao desenvolvimento intelectual
desta criança.
Enquanto os pensamentos se revolviam no meu cérebro, eu ouvi uma
voz que mais parecia um farfalhar de papel assoprado pelo vento. Meus olhos se
voltaram para estante. Era de lá que vinha a voz. A menina desviou o olhar da
televisão. A voz, novamente, se fez ouvir:
- Olá, quer viajar? Que tal pelo universo? Quer sair do Brasil?
Conhece a Europa? Quer conhecer o mundo dos personagens das histórias infantis?
O mundo dos animais? O mundo das formigas é muito interessante, você amará. E o
nascimento de uma borboleta, não pode imaginar como é lindo! Todos estes mundos
estão nos livros esperando ser descobertos pelas crianças.
Quanta pergunta! Como falava aquele livro da terceira prateleira
da estante. A menina, curiosa, disse:
- Eu não sabia que livro falava. Legal. Só que eu não posso
viajar para conhecer lugares ou coisas porque eu vou à escola e meus pais não me
deixariam ir só a lugar algum.
- Não, bobinha! Você pode fazer tudo isso sem sair desta sala,
entendeu? – falou o livrinho.
- Como eu posso fazer isso? – perguntou a menina.
- É fácil. Você vem até esta estante, escolhe um livro, desliga
esta caixa de fazer doidos, senta no canto mais confortável do sofá, começa a
ler e deixa a imaginação voar, viajar. – incentivou o livro.
- Acho que vou fazer isso. Este desenho está tão chato! Você me
ajuda a escolher um livro?
E o livrinho da terceira prateleira da estante, muito contente, listava os
títulos para a menina escolher. Ela escolheu um, sentou-se no canto do sofá e
começou a ler. A sala estava silenciosa. A mãe da menina, não ouvindo o som da
televisão, veio ver se ela estava ali e o que fazia. Ficou admirada. Foi ter com
o marido dizendo:
- Você precisa ver a nossa filha viajando na leitura, nem
percebeu que eu entrei na sala.
O livrinho, aproveitando o silêncio, acomodou-se entre seus
companheiros para uma boa soneca. Finalmente ele conseguiu acabar, pelo menos
por umas horas, com a gritaria daquele desenho infame e fazer uma criança ler.
Maria Hilda de J. Alão.
25/10/06.