Os pensadores medievais insistiam em
que há dois modos de degustar a música.
Uma é a forma vulgar que fica no sensível,
no prazer imediato da orelha afagada pelos sons doces.
A outra forma é intelectual: ela eleva a beleza sonora
até o mundo das proporções
inteligíveis, até o próprio Deus.
...
Na primeira forma os compositores se comprazem
na simples audição e compõem segundo seu capricho.
Na segunda forma, compõem segundo as regras.
Os primeiros são como bêbados que voltam para casa
sem conhecer o caminho. Os outros são sábios
que sabem o que fazem e como o fazem.
...
Para os sábios, a música é uma atividade intelectual
e contemplativa. Ouvindo-a com inteligência penetra-se
no mundo dos mistérios sublimes,
das regras da harmonia, dos números eternos.
...
Assim faziam os Antigos, ensina Casiodoro, mas os
cristãos sobem mais alto e chegam até a unidade, i.
é, até a fonte de todas as harmonias, o Criador de todas
as belezas, a Felicidade absoluta. Então,
a música se dilata num êxtase místico.