Sento-me diante do espelho,
como tu em tua escrivaninha.
Diante desse templo,
olho, avalio, anoto.
Não sou angulosa,
estalactite de prata.
Não sou chama de ouro, vela.
Paro a olhar a mim mesma.
Como a fumaça
o pensamento espalha, voa...
Nós dois, sentados no tapete,
não alterávamos nossas vozes,
sussurrávamos nossos segredos,
como dentro de conchas do mar,
para que ninguém nos ouvisse.
Olho meu rosto.
Analiso, medito, estudo.
Sentada diante do espelho,
recordações alimentam minh´ alma,
tomam o coração. Incansável,
colho lembranças no ar.
O desejo de preservar esse sentimento,
Insiste, persiste.
Tráfego, passagem de rostos,
estação, trem, postes de luz.
Árvores plenas de folhas.
Ando ereta, nariz para o alto.
Temo, odeio, amo, invejo, desprezo.
Sentimento maior predomina... amor.
Desejo, almejo, anseio, quero.
Penso em nossos corpos.
Volto da estação.
Recuso a sombra das árvores.
Percebo casacos, guarda-chuvas,
Autoridade, fama, amor,
sociedade, riqueza.
Nada importa, nada perturba.
Não tenho nada.
Sentada diante do espelho,
dolorosa surpresa.
Não tenho rosto!
Ana Maria Marya
19/12/2007
Ita/Ba/Brasil