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De que são feitos os dias?
De que são feitos os dias?
De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças...
Cecília Meireles
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Estou magoada...
muito magoada...
tão ferida...
tão perdida...
tudo e nada...
entre o que sou e o que não quero...
entre o sonho e a vida...
o que sinto...
conheço-me e desconheço-me...
apenas uma passagem entre o céu e a terra...
o nada que me escapa entre os dedos...
olhos fechados ao horizonte...
cativeiro de mim...
alma esvaziada do que fui...
do que sou...
do que doeu...
do que dói...
apenas o vazio me acompanha...
sentidos dispersos...
ausentes...
entrego-me à noite...
sem alento...
alma errante...
vesti o silêncio...
despojei-me de mim...
já nada sinto.
Tão magoada...
tão ferida...
tão sem vida...
sem chão...
sem esperança...
sem amanhã...
sem mim...
escuro túnel onde caminho sem chegar...
tão vazio o abismo que percorro...
tão negro.
Estou magoada...
muito magoada...
tão ferida...
as palavras são noite sombria...
punhal dilacerando o nada que me veste a alma...
dos meus olhos caem gotas de solidão...
pedaços de vazio...
das minhas mãos frias escorre o cansaço...
preso na garganta um grito...
tão profundo...
queimando o peito...
esta dor sem tempo.
Neste entardecer esperei o amor, o carinho...
mas na minha pele apenas este clamor eterno...
no meu corpo o frio...
vestida de nada...
envolta em nada...
louca...
triste louca...
quero envolver-me em mim...
esquecer-me...
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Chamo-te...
no silêncio dos meus braços vazios...
na distância que nos separa...
no eco doce da tua voz, na eternidade de mim...
no infinito do tempo...
instante da minha saudade...
na noite do meu desejo...
no meu coração cansado...
na imensidão do fogo que me rasga o peito.
Chamo-te...
grito o teu nome na escuridão da minha alma...
nos labirintos do vazio...
na minha carência...
no céu imenso da minha mágoa...
és tu o meu corpo...
as mãos vazias...
tocando a solidão...
esperando este amor sem tempo...
na vida que renasce...
nos sonhos que me deste...
na ternura onde envolveste a minha alma...
acalmando as dores de um passado tão frio.
Quero fechar os olhos e pintar meu sonho de veludo...
caminhar entre a sombra e a luz...
no amanhecer do meu peito...
no vento que acaricia o meu rosto triste...
na saudade que me abraça.
És o tempo infinito...
tudo o que resta de mim...
o céu sem fim...
um oásis no deserto do meu olhar...
o verão no outono do meu corpo dorido...
o despertar dos meus sentidos...
envoltos na noite que quero esquecer...
o calor das frias madrugadas...
a luz que ilumina a minha escuridão...
és a vida...
o sonho que vive em mim.
Queria vestir-me de loucura...
cortar as amarras...
deixar-me levar num doce sonhar...
vestir o amor como quem veste a pele...
abraçar-me e livre voar...
plena de mim...
soltar o grito que calo na alma...
soltar as palavras...
entregar-me sem medo...
viver...
amar.
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