Foi tão bom ter você em meus braços mesmo por poucos dias...
Foram horas marcadas por desejos, deixando em minha lembrança
a sensação deliciosa de sua presença real...
Ficaram em meus lábios o sabor ardente dos seus beijos...
Suas digitais que pousaram com grande intensidade sobre
meu corpo nu, que desejou o seu, sem pensar no amanhã...
Entregamos a fantasia do momento que soubemos viver...
Hoje a saudade se faz presente em minha vida... ao me lembrar
que você passou em minha vida, deixando assim marcas
de um sonho bom...
Porque você se foi?
Você foi um sonho bom, do qual meu coração
não se arrepende de ter aberto a porta
para que ele entrasse.
Hoje sinto uma gostosa saudade de você...
Tudo está calmo... tristemente calmo...
Uma paz doída...
as lágrimas gelaram...
o outro lado de mim petrificou...
Já não há mágoas e as feridas secaram...
como o meu corpo...
Já não choro porque nada acontece...
A meu lado dorme a ausência e um amargo travo de solidão.
O meu pensamento está vazio...
tristemente vazio...
não vivo e não morro...
apenas estou...
Fujo de mim e procuro-me...
espero-me e escondo-me dentro do nada...
Quero correr até ao outro lado da vida para me libertar dos dedos frios do silêncio...
esquecer-me...
perder-me para renascer...
seguir comigo para longe de mim.
Tudo está calmo...
na paz da eternidade para onde quero voar...
na poesia que hoje tem o gosto do deserto que me envolve...
apenas um gemido de palavras esquecidas...
de sonhos envoltos na escuridão serena das trevas...
nas madrugadas que são as sobras das noites vestidas de ausência...
Nada acontece...
Um frio gélido de morte envolve um suspiro de amor esquecido no tempo...
nos lençóis frios tecidos de amargura...
rasgando a carne...
na noite onde a solidão é mais solidão...
na eternidade da minha procura...
no silêncio onde descansa a minha alma...
Tudo está calmo...
tristemente calmo...
e eu ainda existo...
a noite é minha...
infinitamente minha...
dolorosamente minha...
presa no meu corpo...
dolorosamente só...
num voo eternamente solitário...
como um beijo que trago na pele...
uma lembrança que o vento me traz...
mas nada acontece...
e eu deixo-me ficar assim...
perdida entre os restos do que fui...
e o fantasma do que sou...
um rosto enevoado pelo espelho do tempo...
pelo outono da vida...
E ainda cá estou...
presa entre o gesto e as mãos...
na renúncia sem retorno...
entre o abismo e a imensidão...
onde repousa a sombra do que sou...
na noite imensa que me espera...
onde não acontece nada...
“Na solidão, na penumbra do amanhecer...
Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,
nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.
Via você no ontem, no hoje, no amanhã...
Mas não via você no momento.
Que saudade...
Mário Quintana