“Quantas vidas vivemos? Quantas vezes morremos? Dizem que todos nós perdemos 21 gramas no momento exato de nossa morte. Todos! Quanto cabe em 21 gramas? Quanto é perdido? Quando perdemos 21 gramas? Quanto se vai com eles? Quanto é ganho? Quanto é ganho? 21 gramas. O peso de cinco moedas de cinco centavos, o peso de um beija-flor. De uma barra de chocolate. Quanto pesam 21 gramas?” É a partir dessas reflexões que o personagem de Sean Penn faz no fim do filme “21 Gramas” que uso como premissa para discorrer meus pensamentos.
Alguns vivem várias mortes durante a vida. Não falo em morte do corpo. Cada decepção, cada lágrima, cada injustiça leva uns 21 gramas de nós. E até onde podemos perder? Será que podemos nos dar ao luxo de perdê-las e não fazer nada para compensá-las? Não se vive só de perdas. Por mais que o ser humano negue sua sensibilidade, é inevitável ficar indiferente aos sentimentos, se tornar frio e amargo. Existem até aqueles que conseguem, mas seriam elas as melhores pessoas? Será que precisamos mesmo das melhores pessoas? Talvez no fundo a gente clama tanto por precisar de alguém e um dia descobrimos que o que precisamos sempre tivemos: nós mesmos e pronto.
Talvez eu tenha vindo para confundir e acabar sem dizer nada. Me importaria? Não quero perder mais 21 gramas me importando com isso. De pouquinho em pouquinho a galinha enche o papo e eu fico sem nada. Tantos números (repetidos). Como já diria Paul Rivers (personagem de Penn), “há um número escondido em cada ato de vida, em cada aspecto do universo. Fractais, matéria… Há um numero gritando, tentando nos dizer algo. Os números são uma porta para entender um mistério que é maior do que nós, como duas pessoas, desconhecidas, acabam se encontrando”. Quem ousaria entender tais mistérios?
São vinte e um gramas perdidos, tão pouco que nem notamos. Será que viemos a esse mundo para deixar para trás essa quantidade inútil? Pequenas coisas fazem a diferença. Não vivemos por isso. Vivemos porque precisamos perder sempre 21 gramas para que, com isso, possamos aprender a viver sem ou aprender a não perder mais. Mas até quando precisamos passar por coisas na nossa vida para sempre perder e nunca ganhar? Até onde vai o sempre? A resposta está nos nossos limites e só nós próprios sabemos. Mesmo porque o para sempre, sempre acaba. Acaba?
Marilia De Las Heras