ara ou com o barulho da xícara quebrando, porque você sempre foi um desastre em organizar um bom café da manhã. E era isso que eu mais gostava em você: a sua coragem de errar, os seus defeitos imutáveis, o seu jeito meio desastrado de ser. Você nunca foi igual a todo mundo e, talvez, exatamente por isso, eu descobria um novo motivo pra te amar todos os dias. Os dias comuns e rotineiros são os que mais fazem falta. A sua risada vendo desenho animado no meu sofá se transformou nos ecos dos meus gritos silenciosos e sozinhos. Eu ficava irritada quando você abria as cortinas e a luz do sol ofuscava a minha visão, mas confesso que ficaria cega se preciso fosse pra te trazer de volta. Tudo bem, confesso, cega não, mas eu te deixaria mudar as cores das cortinas se você quisesse. E também te deixaria ganhar naquela nossa interminável briga sobre onde-colocar-os-porta-retratos. Hoje, tudo o que me resta de você são eles. O seu sorriso cativante - junto com as maçãs rosadas do seu rosto - está intacto em uma foto que carrego comigo, grudada no peito. Espalhei pela casa tudo que me lembra você pra ver se a saudade te consome de uma vez e aluga outro endereço. O frio da nostalgia é mais doloroso e ameaçador do que o possível frio daquele lugar no hemisfério norte que planejávamos viajar. Tenho saudade dos nossos planos e da vontade que tínhamos em realizá-los. E também tenho saudade do seu perfume nas minhas roupas e do som da sua risada exagerada, mesmo não entendendo como um ser humano é capaz de sentir falta de um cheiro ou de um barulho. A cama ficou grande demais sem você pra ocupar o lado direito. O café ficou frio demais sem você pra aquecer as manhãs. Eu fiquei perdida sem você pra me encontrar e me trazer de volta. O tamanho da felicidade que você me proporcionou não chega à um terço da dor que a sua partida me causou. Deus parecia estar me presenteando quando fez os nossos caminhos se cruzarem, mas hoje não sei ao certo se o proposito era me castigar. De qualquer forma, foi bom. Foi amor. Um amor estranho, meio revirado e de costas pra realidade. Até que um dia a razão matou a emoção e fez o nosso conto de fadas desmoronar. Acabou, chegou ao fim, a vida levantou o cartão vermelho pra gente. Eu queria poder te ligar e dizer que, juntos, ainda podemos correr atrás do nosso cartão verde, ainda podemos fazer dar certo, ainda conseguimos alugar um filme pra hoje a noite, ainda vamos cultivar o resto de sentimento que restou, mas isso seria em vão. O nosso tempo se passou e a gente passou do tempo. Ou melhor, você se foi com o tempo. E este, então, resolveu parar pra mim. Isso não é sobre o fim de um amor. Isso é sobre o meu fim.”
— Capitule
— Capitule