楊煉 楊煉 于堅 西韓東歐陽江河王家新伊沙 楊煉 ♬ ★
O que vale na vida não é o ponto de partida
e sim a caminhada.
Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.
© Cora Coralina
PARTE III
楊煉
UM BARCO REMENDA O MAR
DEZ POETAS CHINESES CONTEMPORÂNEOS
楊煉
À SOMBRA DA REALIDADE
Yao Feng
O ano de 1989 foi um ponto decisivo para o grupo Hoje, cuja maioria dos membros foi obrigada a abandonar o país devido às graves circunstâncias sociais, fato que anunciou o fim desse movimento poético. Longe da pátria, apesar de muitos deles continuarem a escrever em língua materna, já deixaram de ecoar como antes no horizonte desta terra, onde se erguiam novas vozes. Com efeito, é justificável mencionar Hai Zi [海子], o “menino do mar”, que se esforçou por legitimar a poesia num reino mais sagrado e mais sublimado, por meio de um lirismo firme e genuíno, de um processo de cristalização não só da linguagem como do sangue. Deixou uma herança admirável aos poetas posteriores depois de se suicidar aos 33 anos, com o intuito de se livrar do conflito entre o sonho inatingível e a realidade desgraçada. Paralelamente, existem outros autores, como Yu Jian [于堅], Xi Chuan [西川], Han Dong [韓東], Ouyang Jianghe [歐陽江河], Wang Jiaxin [王家新], Yi Sha [伊沙], que procuram, cada um a seu modo, a expressão singular, de maneira a traçar um mapa diversificado da poesia. Houve entre eles discussões acesas sobre uma série de questões relacionadas à poética – por exemplo, a escrita intelectual, a escrita em linguagem coloquial, a assimilação da poesia estrangeira etc.
A partir dos anos 1980, a China vem conhecendo mudanças dramáticas que conduzem uma sociedade fechada e altamente politizada a um mundo mais aberto. Por um lado, as pessoas gozam de mais liberdades na expressão de seu gosto, sentimento, tendência ou imaginação; por outro, o sistema de mercado, a perda da crença, o comando do materialismo levam-nas a se afastar cada vez mais da poesia. Se a poesia menlong explodiu, em sua época, como uma força espiritual, ditando a voz sufocada do povo, deve-se reconhecer que, desde os anos 1990, os poetas já deixaram de desempenhar o mesmo papel na vida social. No entanto, a poesia não morreu nem vai morrer. Os poetas continuam a brotar como bambus da terra, porque ainda lhes cabe a tarefa da fusão e do espelhamento dos mundos exterior e interior pela acumulação verbal.
Por um lado, os poetas chineses são cúmplices de outros poetas do mundo, veiculando igualmente o visto e o sentido por meio da exploração de sílabas apagadas e, por outro, são homens profundamente integrados à sociedade, onde raramente conseguem fugir à sombra da realidade. Daí é natural compreender que a poesia contemporânea chinesa não suporta a leveza de uma proposta meramente estética, carregando quase sempre, porém, o interesse ou a tendência ora moral, ora política.
No entanto, não se deve delimitar uma fronteira distinta entre um poeta brasileiro e um poeta chinês, visto que todos os poetas acabam por falar do mesmo mundo dentro dos mundos. Tal como os fragmentos aqui reunidos também poderão compor um pequeno mosaico da alma humana por meio de um olhar distante.
7-8 de abril de 2007
© Copyright © Régis Bonvicino 楊煉
★DEUS É SUPERIOR A TUDO e a TODOS★