Luar póstumo
Numa noite de lua
escreverei palavras,
simples palavras tão certas
que hão de voar para longe,
com asas súbitas,
e pousar nessas torres
das mudas vidas inquietas.
O luar que esteve
nos meus olhos, uma noite,
nascerá de novo no mundo.
Outra vez brilhará,
livre de nuvens e telhados,
livre de pálpebras,
e num país sem muros.
Por esse luar formado
em minhas mãos, e eterno,
é doce caminhar,
viver o que se vive.
Porque a noite é tão grande...
Ah, quem faz tanta noite?
E estar próximo é tão impossível!
© Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)
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