Do livro “... e Jesus não voltará...” de Arnaldo Marcéu.
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Era noite alta e, na biblioteca, o silêncio foi rompido pela conversa que três palavras de um enorme dicionário mantinham após terem dele escorregado para fora.
Como de hábito, à noite, libertas do eventual risco do manuseio, as palavras do dicionário, como dos outros volumes, se sentiam à vontade para um bate papo informal. Então dele saíam e se punham sobre a estante a conversar.
Nessa ocasião, estavam reunidas sobre o móvel, as palavras VERDADE, CRENÇA e AMOR. Eu, sorrateiramente, velado pela escuridão quase plena do local, pus-me, em silêncio, a apreciar o que diziam.
Desde que descobrira que as palavras tinham esse peculiar hábito, pude, por várias vezes, fazer uma apreciação, à distância, desse fato. Foi essa oportunidade, a qual relato agora, uma das que mais me encantaram.
A primeira a falar foi a VERDADE. Sua voz era de indignação e somente com o decorrer dos pronunciamentos é que pode recuperar o domínio e a calma.
Assim ela dizia:
- Estou muito envergonhada! A cada oportunidade que alguém, em consulta, o que é raro, correndo o dedo indicador sobre a página onde moro, detém-se sobre mim, quase desfaleço de vergonha e raiva. Sinto-me aviltada, e quisera até que nunca tivessem me inventando, aliás, isso é que seria o ideal e até mesmo o correto.
Sєjαм Bєм-Viηdσs!!!
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