Você foi uma amostra grátis,
pequenina, atrativa e única,
que recebi, um dia, no Supermercado da Vida.
Meu carrinho já estava cheio,
lotado de supérfluos e comida.
Tanta coisa havia nele
que talvez eu nem pudesse mais pagar.
Mas lá estava eu a empurrar.
Você chegou, pequenino, imperceptível,
uma verdadeira amostra grátis,
cujo conteúdo foi esmeradamente preparado
para vender rapidamente o produto.
Observei, analisei o invólucro atentamente,
embora soubesse que o importante
era mesmo o que havia internamente.
Abri com cuidado,
afinal era tão pequena a amostra;
todas as amostras grátis são; e provei.
Tinha um sabor especial, de uma iguaria sem igual.
E eu me lambuzei.
Pensei em trocar por todas as minhas compras,
sem ao menos pestanejar.
Revirei as prateleiras do tal supermercado;
haviam produtos similares
mas nenhum...o procurado.
Se eu o achasse, tiraria tudo do meu carrinho,
e o colocaria dentro, bem no centro,
com todo carinho.
Passaria pelo caixa, ou talvez até tentasse
levá-lo na facha.
Mas o único exemplar...eu vi.
Estava no fundo de um carrinho apinhado,
provavelmente com o conteúdo todo danificado.
Vontade de pegar você pra mim, eu tive,
aproveitando a cliente desatenta,
afinal, ainda não estava pago; mas me contive.
Saí de lá apenas com aquilo que sempre levei,
mas volto todos os dias
na esperança que a cliente devolva
o produto que por ela mesma foi avariado.
Então, eu direi ao Senhor gerente:
Não se incomode, fico com ele.
Eu cuido dele...daqui pra frente.
Silvia Munhoz
04/03/01