Tempo, o que temos feito contigo,
o que você tem feito conosco,
que passamos por você e você por nós,
ora arrastando os alicerces que pensávamos indestrutíveis,
ora recompondo nosso cetim de esperança.
Num tempo, o termos à disposição para fazermos tolices,
noutro somos tragados pela sua passagem repentina
e nem damos conta do valor que encerra em teus ponteiros.
Quando achamos que o temos à nossa revelia,
eis que você já dobrou a curva e nem olhou prá trás.
E quando mais precisamos de você,
no momento em que desejamos retocar uma marca
que não gostamos ou que não fica bem em nosso rosto,
- que ilusóriamente pensamos ser jovem -,
você já saiu de cena e só nos deixa
as vaias do espetáculo da vida.
Tempo, tempo, tempo, o mesmo que está passando,
enquanto escrevo e você lê,
o mesmo que - se formos sábios - refaz a mágoa,
mas enterra em definitivo a juventude, a meninice,
as horas que não aproveitamos por não sabermos
que ele é o senhor da razão e da emoção.
Tempo, o que fazes conosco, o que fazemos contigo,
que não nos deixa um segundinho só para rejuvenescermos
e, ilusão, para pensarmos que somos donos de você.