MULHER MADURA
(Antonio Miranda Fernandes)
me encanta a mulher madura
com o seu jeito de gata ronronando
ou sereia nadando em remanso...
me seduzem os gestos mansos
e o seu falar tranqüilo e elegante
sem esbanjar ruidosamente bocas
de exagerados dentes expostos,
pernas, braços e colos de silicones
comum nos arroubos adolescentes
em florescências desastradas
e cabelos com luzes artificiais em
rabanadas jogando água aos lados
transbordando em terra estéril
me seduz a mulher madura
com a serenidade do repouso da garça...
o seu olhar não invasor, mas envolvente.
há o espaço respeitoso entre seu corpo
e o resto do mundo. Adágio da sinfonia...
ha nela o amarelo das rosas cúmplices
e o encarnado das pétalas sensuais
longe da tagarelice das florinhas
se atropelando em falas ainda ocas
em busca da natural descoberta
dos próprios potenciais
a mulher madura é diferente em tudo
até e principalmente no gozo...
é intenso...como começo sem fim...
como se nada houvesse depois...
como se nada mais importasse...
então...ela prolonga...sabe como fazer...
sabe bem como dar e sentir prazer...
ela tem a graça que estonteia
charme de injetar sedução na veia
e cambaleamos de satisfação...
sabe do seu sabor...se experimenta...
a começar pelo sorriso envolvente
no rosto maquiado e boca com batom
mesmo que chorado na madrugada
e se foi traída, saiu-se dela sozinha
para a extensão de outros amores
sem alarde de barzinhos entre
copos e fumaças sem graça
a mulher madura merece ser retratada
com pinceladas de profundidade...
com palheta de matizes especiais...
e todos os meses fossem primaveras
para que ela lhes perfumassem
e o mundo seria mais sorridente
ela tem a suavidade da meia-idade
e da jóia rara lapidada e definida
sem o agreste puro
da possibilidade imatura...
ela tem noção do valor da existência
e não sabem o que perderam os que
lhe passaram e deixaram na vida...
o primeiro esposo...
o primeiro namorado...
não perceberam...passaram...não importa...