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bom dia

A MUDANÇA

Marlene B. Cerviglieri





Quando meus pais me contaram que iríamos nos mudar para uma chácara, fiquei muito assustado.
Como iria deixar meus amigos minha escola!
Foi quando meu pai sentou-se comigo na sala e para minha surpresa disse-me que eu ia ganhar um irmãozinho.
Fiquei meio atrapalhado, pois era muita surpresa de uma vez só.
Daí para mudarmos não levou um mês.
A chácara era bem grande e tinha tudo que um garoto de sete anos podia querer. Até mesmo um pequeno lago que dava para pescar e até nadar.
A escola era não muito perto, mas ganhei uma linda bicicleta e com ela rodava todo dia. Quase todos na escola tinham uma ou então alguém os trazia e buscava mais tarde.
Aos poucos fui me acostumando e até pensei que devíamos ter mudado antes.
Logo me enturmei e conheci vários meninos da minha idade e até mais velhos.
Alguns haviam nascido ali naquele vilarejo.
Conheciam todos os cantos possíveis e juntos fazíamos pescarias que nunca vou me esquecer. Eram tantas as brincadeiras que a noitinha logo depois de jantar já ia dormir senão não conseguiria levantar para ir a escola.
Meu pai plantava uvas de três tipos e as parreiras eram lindas sempre e principalmente na época que os cachos de uva apareciam.
Fazia vinho também em conjunto com mais dois vizinhos.
Cada um tinha sua produção e havia muita troca na época da colheita.
Sempre que precisava de algum dinheiro extra meu pai fazia umas cestinhas de uvas, e eu ficava perto da entrada onde passavam os carros para vendê-las.
Eram uvas brancas, rosadas e pretas a cesta ficava colorida muito lindo de se ver e o perfume que vinha era delicioso!
Aprendi que não se prendia passarinho eles tinham suas famílias seus ninhos nas arvores e ninguém os molestava pelo menos na nossa região.
A caça era coisa de homem grande nunca fui e também não sentia vontade de ir ver quando chegavam com os animais abatidos, mas comer a carne isso sim.
Certo dia vi uma arvore muito grande toda enrolada por uma trepadeira esquisita. Perguntei ao meu amigo que espécie de arvore era aquela?
Foi quando fiquei sabendo que existiam ervas daninhas.
São ervas que nascem para acabar com as arvores, grudam e vão sugando a arvore e esta fica sem vida logo.
Coisa triste de se ver a arvore vai secando.
Será que não conseguimos tirar a erva dela, perguntei?
Acho que não porque você teria que ir tirando de outras mais seria um trabalho e tanto.
À noite quando voltei para casa, contei o fato para meu pai.
Ele coçando seu queixo olhou para mim e disse:
Meu filho existem pessoas parasitas também, estas você não deve deixar que se aproxime. Naquele dia não entendi muito bem porem hoje sei o que são.
Meu irmãozinho nasceu naquele mesmo ano e como chorava...
Fui ficando de lado o tempo de minha mãe era todo para o bebe chorão.
Assim eu o chamava, mas meus pais não sabiam.
Fui me sentindo sozinho e sem atenção nenhuma.
Às vezes nem jantava, pois não havia mais aquele jantar gostoso onde conversávamos na mesa, por quê?
Ora meu irmãozinho chorava e lá ia minha mãe e muitas vezes meu pai também.
Certo dia já cansado da situação do bebe chorão, disse para meu pai:
-Papai nosso bebe é como uma parasita vive grudado em vocês dois.
Meu sentou-se com aquele jeito dele olhou bem para mim e disse:
Tem razão, eu sou uma arvore e sua mãe outra arvore!
Sendo assim ele se agarra em nós.
Porem meu garoto você esqueceu que já foi parasita também, pois quando bebe também chorava e é claro se grudava em nós.
Devagar e com cautela conseguimos tira-lo desta situação para que você tivesse vida própria.
Isto leva algum tempo, tempo para os bebes amadurecerem e terem suas experiências.
Se nós não tivéssemos paciência e esperado talvez hoje você estivesse preso em nós ainda.
Não iria para a escola de bicicleta, pescar, brincar com os amigos.
Tenha calma meu filho, todos têm seu tempo certo para tudo.
Sentei no chão e fiquei imaginando papai e mamãe arvores e eu mais meu irmãozinho grudados neles!!!
Ri muito, mas depois de pensar novamente vi quanta coisa boa havia aprendido naquele dia, e algumas sozinho só andando pelas cercanias eu era independente e feliz.
O que estava tendo era mesmo um ataque de ciúmes.
Mas ora ora, ciúmes de um bebe chorão!Logo cresceria e também estaria solto das firmes arvores que o preparavam para a vida!
Lembranças e lições que nunca serão esquecidas.





















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