Tenho receio pelos dias que passam corridos e pelos dias que passam batidos. Tenho medo pelos dias que não acrescentam, pelas horas vazias, cheias de coisa nenhuma, ao mesmo tempo que sinto que vinte e quatro horas, não chegam para nada.
Ou estou a fazer mil coisas ou estou numa inércia, em que tudo me parece demasiado cansativo e volátil. Tenho saudades de algumas coisas, pessoas e situações, quando em simultâneo não sinto falta de nada. Ao mesmo ritmo que quero ir, fazer e acontecer, quero estar sossegada no meu canto, não ouvir a voz de ninguém, pensar em voz alta. Gosto dos pedacinhos de silêncio que consigo encontrar num dia só... Que podem ser, muitas vezes, um problema para uma mente inquieta. Nunca me fez tanto sentido perguntar "para onde vou? Quem sou e o que faço aqui?" Sei que afasto as pessoas e nem sempre é uma escolha intencional, mas depois da vulnerabilidade com que abres o teu livro, vêem-te com outros olhos. Ou pelo menos eu acho isso.
E nos relatos que deixo escapar, a mensagem é de redenção e não de auto-comiseração. Não é o onde estou agora, mas o para onde posso ir e o que farei para lá chegar. E na verdade, ninguém sabe o que passaste, o que tiveste de suportar para estares onde estás hoje, mesmo que isso, para eles, signifique pouco, para mim é motivador. Para mim é a personificação de resiliência e os outros não têm de entender isso. Eles não estavam lá nos Natais e nos aniversários que passei sozinha. Eles não estavam lá quando, grande parte da vida, estive sozinha. Eles não me ligaram a perguntar nada quando o dinheiro não me chegou para pagar as contas. Eles não estavam lá quando me empurraram para hospitais e o problema não era eu. Eles não estavam lá quando engoli o choro e o troquei por uma gargalhada. Por isso, os outros são apenas isso, os outros. E eu, mais ou menos complicada, mais ou menos difÃcil de lidar e entender... Fiz o meu caminho, certo ou errado, não importa, foi o meu... E no final das contas, reconheço o meu valor!