Postado por: Mari | Quarta-Feria: 28th Novembro de 2012
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Oii amores *-*
Vocês curtem contos de fadas? <3
Soube que tinha cinco filhos. Ficavam com a mãe, pendurados lá no Morro do Estado. Já a tinha visto pior do que daquela vez. Na imaginação, lá dela, aquela peruca loura, que mais parecia uma vassoura, mudava a cor de sua pele e a deixava, talvez, mais atraente. Como a dentadura postiça que lhe legou aquele tique típico de passar a língua sobre os “marfins”. Na orelha o mesmo brinquinho de camelô de sempre.
Mas, agora, era diferente. Estava trabalhando “por conta”:
— Eu fico mais lá não. Um entra e sai que a gente não tem nem tempo de se lavá. E depois ainda tem que dá metade pra outra lá.
Baiana passava todos os dias na lojinha para “bater o ponto”, como ela mesma dizia. Era caminho do barraco pro trabalho. Agora estava saindo com um “velho montado na grana”.
— Você nunca teve vontade de largar esta vida? Perguntei mesmo já sabendo a resposta.
— Pra fazer o que? Nunca aprendi a lê, num vai sê agora. Lavá roupa lá no alto do morro, sem água corrente, dá não. Eu vou me virando aqui em baixo memo, do jeito que posso.
A peruca ainda esta suja, apenas trocara o alpargatas pela galocha, porque agora chovia.
— Esta foi o velho que me deu. Dada memo. Ele é bonzinho, tadinho.
As pernas agora cruzadas deixavam aparecer as grossas varizes, acima das meias soquetes.
— Acende aqui- curvou-se até meu cigarro mais uma vez.
Desaba o temporal. Baiana olha o relógio pela milésima vez. Agora caminha a passos largos. Na esquina pára um Maverick vermelho. O motorista estica o braço, entrega-lhe algo, acelera e segue. Ela tenta dizer-lhe alguma coisa, mas sua voz se perde na fumaça solta pelo escapamento. Ela caminha de volta. Vem em minha direção. Tropeça. Xinga um sonoro palavrão. Vejo-a passar a mão sobre o rosto molhado, a peruca ensopada, o senho franzido. Pára. Olha para mim, mostra o dinheiro e pergunta:
— Cê me troca um galo?
Não importa o quão poderoso você se torne nunca tente fazer tudo sozinho, caso contrario ira falhar.