Saudades
Em um mundo no qual apenas moravam os sentimentos da alma humana existia algo como na nossa sociedade. Haviam aqueles sentimentos famosos, que todos já ouviram falar e nunca saiam do ouvido de qualquer outro sentimento. Eram aqueles nos quais muito se espelhavam e até os imitavam. O carinho sempre tentava parecer igual ao amor. A ambição, como já é de sua própria natureza, tentava se tornar o mais famoso e presente sentimento, apesar de sempre não conseguir ir a lugar nenhum.
Em um belo dia, chega ao mundo dos sentimentos um novo morador. Ele era muito calado, não costumava se misturar a nenhum dos outros e ficava sempre observando tudo. De repente, o fato de ser tão solitário acabou despertando o interesse dos demais sentimentos que decidiram interrogar aquele forasteiro.
- Quem é você? - indagou a curiosidade
- Sou aquele sentimento ao qual muitos de vocês devem temer, e muitos outros devem admirar. - respondeu o forasteiro
- Deixa de besteira e fale logo o porquê de sua existência! - exclamou a impaciência
- Diferente de vocês, não me pareço com ninguém. Todos sabem que eu existo e sabem como sou, mas não sabem me definir ao certo. Posso estar presente em atos simples ou também por trás de vocês, sentimentos.
- Ainda estou muito confuso. - disse o amor, como já é de sua natureza.
- A confusão é também algo que trago comigo. É normal muitos de vocês me seguirem mas nenhum chega a me superar. Sou algo muito específico e ao mesmo tempo algo muito geral. Muitos daqueles que me sentem têm vergonha de admitir que estou presente e a muitos que ouvem que estou presente em alguém, há felicidade.
- Eu? Sempre estou depois de você? - perguntou a felicidade, com a curiosidade ao seu lado.
- Não. Também trago comigo a tristeza e muitos outros sentimentos agressivos. Sou um jogo de opostos que serve para fazer aqueles que me têm perceberem o quão frágeis são diante vários acontecimentos. Eu machuco meu portador que muitas vezes não aguenta e sofre sequelas posteriores.
- Mas não existe nada que te faça parar? - perguntou a rivalidade.
- Não. O tempo costuma deixar mais fracos meus sinais, mas basta apenas uma pista de quê eu existo, que eu volto com toda força e demoro para me enfraquecer novamente.
- Se és tão poderoso assim, como provas que és tudo isso? - retrucou a desconfiança.
- Não posso provar. Só digo que ao meu lado, estão todos vocês. Quando sou omitido muitas vezes trago o arrependimento ou dúvida. Quando estou presente nos fatos românticos, trago o amor e a felicidade. Quando estou em fatos que se preferem esquecer, trago a tristeza. Mas só lhe digo que é melhor mostrar que estou presente do que me omitir, pois muitas vezes ao ouvirem meu nome, pode se ter uma grande variedade de outros sentimentos como amor, amizade, felicidade, carinho, bem-querer, paixão e outros. Este é meu conselho.
- Ah é? E como se chama o mais complexo dos sentimentos? - perguntou a inveja.
- Saudades. Muito prazer!