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MEU POBRE RIO
Meu rio pequeno,
Braço liquido do campo
Que em gesto de aceno
Serpenteava vigoroso.
Eu bebi de tuas águas
E comi da tua carne.
Mergulhei fundo nos teus sonhos
E brinquei criança
Em teus longos cabelos,
Tuas cachoeiras.
Hoje, frente ao teu barranco,
Meu coração se aperta.
Em tão poucas décadas,
Rever-te mais morto que vivo,
Agonizando à espera
Do tiro de misericórdia que alivie a dor.
Tuas águas aprodecidas,
O barranco debruçando-se sobre ti,
A vida morrendo ou já morta,
Teus peixes buscando o ar que já não tens.
Ah meu riozinho querido
Espelho da minha infância!
Se eu pudesse te pegaria no colo,
Daria um longo banho,
Lavando teu rosto dos esgotos,
Varrendo do teu corpo
Os lixos e as imundices
Que minha geração te presenteou.
Entraria no teu leito
Mergulhando em nosso passado,
Beijaria teu coração de menino
Que envelheceu com a ganância
E a estupidez do inseto humano.
E, com as mãos em conchas,
Beberia da tua vida
E te ajudaria a vomitar as imundices,
Expulsando a carniça fétida
Da maldade humana.
Josuepoeta
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