NO DIA QUE...
No dia que o sol
Não te der bom dia
E se logo depois
Ele surgir no céu
Junto com a lua e a noite.
No dia que as flores,
As que tens no teu quintal,
Desaparecerem de suas hastes.
No dia que o vento soprar furioso
Trazendo com ele um pedaço de mar.
E a noite, por instantes,
Voltar a desaparecer
E retornar trazendo
Uma constelação de estrelas.
Se a chuva que chegar
Molhar teu rosto
E sentires gosto de sal,
De lágrimas.
No dia que os ébrios e os boêmios
Esquecerem as orgias.
Os loucos do manicômio
Os loucos por fraqueza
Os loucos por amor,
Em reverência silenciarem
Junto aos príncipes da noite.
No dia que teu coração
Quizer sair de ti.
No dia que ele gritar,
E teus olhos,
Sem motivo chorarem.
No dia que saires na rua
E senti-la deserta
Calada...
No dia que a manhã
Denotar queixa na brisa,
E vires os pássaros
Numa revoada triste,
Amarga, desesperada.
No dia em que acordares
E, tentando sorrir,
Sentires teu sorriso chorando.
No dia que tudo
Te lembrar alguma coisa,
E que o ar quiser algo te contar.
E, penetrando em tua poesia
Tua mão não conseguir escrever
A palavra amor,
A palavra saudade,
E as duas vestidas de negro
Estiverem rumando para um último baile.
No dia em que quiseres
Olhar para o céu
E perderes o controle
Sobre teu olhar
Que resistirá no chão
Chão de boca aberta
Escancarando um estranho sorriso.
No dia em que a vida
Te parecer cinzenta,
Reduzida, misteriosa.
No dia que lado a lado
Estiverem:
Fatalidade, destino, ruínas,
Sadismo, benevolências,
Todo o abstracionismo.
No dia que sentires
Alguma coisa errada,
Algo estranho.
E te julgares maluca
Ao sentir tanto fenômeno.
No dia em que sentires
Teu coração acelerado
A ponto de estremecer no peito.
No dia que tudo isso acontecer
E, quiseres saber o porquê,
É que a vida
Estará te anunciando
A morte de um poeta.
Do poeta que amou você!
JOSUÉPOETA
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