Passei a vida a correr sem ver ao certo quem corria à minha volta ou quem simplesmente corria ao meu lado. Agora que paro e fecho os olhos, deixando de lado os pés cansados que me guiavam nas voltas, admito que correr de olhos fechados nem sempre nos faz chegar a alguma meta.
Agora que paro a meio, sem saber como cá cheguei e, sem saber o caminho certo para correr, continuo sem saber quem corre comigo, quem corre para mim e quem corre por mim.
Continuo sem olhar, sem ver. Porque afinal juntamente com os pés também se me cansaram os olhos, também se me cansou tudo o que a cabeça segura e tudo que o peito guarda. Cansou-se-me a alma, a calma e o raio que parta a vida.
Não quero ser mais uma que corre só por correr. Que corre para não estar parado. Estou cansada. Vou ficar sentada a ver-te correr à minha volta. Para mim. Por mim... Até que te canses e te sentes ao meu lado. Até que percebas que só correm os perdidos e que só se sentam aqueles que precisam ser achados.
Não me canso de ti. Não me canso do bater do teu lado esquerdo no meu ouvido quando me perco no teu peito. Não, eu não me canso de ti.