Chega um dia
em que o dia já não é mais suficiente,
em que as horas são curtas
e os minutos inexistentes
Chega um dia em que a cor,
antes tão viva
agora se apaga desmaiada
Chega um dia em que
é preciso virar a mesa,
sacudir o medo,
içar a esperança.
Porque a chave já não abre mais a porta da alma,
emperrada pela mesmice
porque a vida já segue outros cursos,
porque a voz canta noutro tom,
porque as pernas já não levam para o mesmo caminho.
E assim,
nesse rodopiar
angustiante,
aflito e desejado,
me vejo emergir do sono atormentado
que mergulhei minha existência.