Scarlet - flog.vip/fronteiradavida

O vento não transporta notícias boas.
Sinto as nuvens da tempestade envolver-me o corpo.
Sinto o cheiro electrico da húmidade do ar.
Vai chover...
um mau presságio adivinha-se no horizonte,
e o murmúrio da tua dor toca-me a alma.
Vejo a lágrima que rola pela tua face,
e sinto-te o coração apertado,
quando o corpo te magoa o espírito.
A minha alma estremeceu,
antes mesmo de chegar a mim
a vibração dum corpo em queda,
antes mesmo da dor do impacto
na rocha fria da realidade,
senti-te, e escrevi-te sobre
a cor do céu da minha alma,
sobre as nuvens que o escureciam,
sobre a chuva que caia cá dentro...
Este instante de antecipação,
fruto de a minha alma ser a tua,
revela-me a certeza de que
o primeiro pensamento foi meu,
no instante em que a realidade te atingiu,
e a dor dilacerou a carne.
Na distância, sopro fortemente,
na direcção da tormenta,
que tento com a força que me dás e levo dentro,
dissipar as nuvens e fazer chegar a ti,
um raio do Sol, um brilho da Lua,
para voltar a colocar-te na face,
ainda que por um instante, o sorriso,
com que me brindas quando estás comigo.

Autor desconhecido

Espasmos e contusões acompanham o corpo
que vacila entre o céu e o mar.
O calor que desprende lágrimas de suor,
sufoca a respiração
que se solta como nuvem piroclástica
num vulcão em plena erupção.
Do dia se faz a noite,
que adormece na agitação dos corpos
em movimento e desperta,
completamente rarefeita como o ar
que consumimos nesta exaltação
a que nos entregamos.

Depois, funde-se a matéria,
derramam-se os elementos
e correntes de fluidos ardentes
que resvalam pelos corpos,
arrefecendo aos poucos em contacto com o ar fresco
que nos aporta as gotas de orvalho.
Cansados, os músculos distendem-se,
perdidos os sentidos reagrupam-se,
tentando seguir um único caminho.

Neste lugar,
fica para sempre o perfume da fusão,
esta infusão de aromas feitos de corpos esmagados,
sentimentos aguçados,
dedos enlaçados que se perdem nas reentrâncias.
O mar será salgado, pelo suor que deixamos ficar.
O céu será azul por lhe esgotarmos toda a água
que transportava e nós seremos sempre,
átomos da mesma molécula.

Que a felicidade não dependa
do tempo, nem da paisagem,
nem da sorte, nem do dinheiro.
Que ela possa vir com
toda a simplicidade,
de dentro para fora,
de cada um para todos.
Que as pessoas saibam
falar, calar, e acima de
tudo ouvir.
Que tenham amor ou então
sintam
falta de não tê-lo.
Que tenham ideal e
medo de perdê-lo.
Que amem ao próximo e
respeitem sua dor,
para que tenhamos certeza
de que viver vale a pena!..."

(Leticia Domingueti)