Há ainda o odor forte á sombra e ao tempo, sinal de abandono e solidão que se não desvaneceu.
Caminho devagar pelo corredor, rodo ao centro sobre mim, olho a janela aberta ao espaço.
Suspendo-me á escuta de um imperceptível rumor, o rumor que sobe sempre das eras acumuladas e anuncia uma invísivel aparição.
Tudo quieto e definitivo como um túmulo esquecido.
Só uma suave melodia enche o silêncio, enche todo o meu passado que a procura.
Toda a terra vibra nela, todo o universo se explica numa palavra final.
A mais alta, a mais profunda.
Mas não sou eu que a faço vibrar, é ela só que a si mesma se diz.
Música áspera a minha, outra música para lá dela se subtiliza ao meu ouvido até ao silêncio final, onde se perde a aspereza da minha execução.
Que palavra se diz neste dizer?
Não a sei.
Sei apenas que esse silêncio se preenche de tudo o que não sei dizer nem sobretudo me apetece dizer.
Como uma rede que sustêm todas as impurezas, o fio de água passa e a sua pureza me comove e só ela me existe.
E é como se eu própria me evolasse com esse momento e de mim ficasse o que útil e necessário me sustentasse o viver.
Tudo, tão pouco!
Estou só,
Estás só.
Não penses.
Não fales
És em ti apenas o máximo de ti.
Há uma palavra qualquer que deve poder dizer isso, não a sabes?
E porque queres sabê-la?
É a palavra que conhece o mistério e o mistério conhece, não é tua!
De ti é apenas o silêncio sem mais e o eco de uma música em que ele se reabsorva.
Silêncio!