Só não se basta a si próprio
o que não tem com que se bastar.
Assim se explica que ele busque nos outros
o que lhe falta em si mesmo.
Isto deve estar certo.
E todavia pode não estar.
O que falta no que encontramos pode
não ter que ver com o que lá está,
mas com o que lá se procura.
O erro está pois no que se não deve procurar.
Posso procurar um sistema de ideias
onde só encontro uma dose de senso comum.
Posso encontrar uma côdea de pão onde
procurei um bife com ovo a cavalo.
Assim há que ir procurar no fornecimento alheio
o que nos falta no próprio - em contentamento,
em pacificação, em reconhecimento da glória
de que duvido ou não tenho.
E no entanto, a ambição puramente individual
é à nossa medida que deveria talhar-se.
Excepto talvez para o que sustenta essa ambição,
ou seja para o que nos sustenta.
Mas nesse caso a ambição
chama-se justiça e já não é individual.
E nesse caso fazem-se revoluções.