A Escolha
Se pudesse escolher outra vida, escolheria a que tenho,
mesmo sabendo da dor em que nela morri mais do que uma vez,
se fosse esse o preço a pagar para te ter e para que o instante de
deslumbramento em que, um dia, acontecemos permanecesse
intacto até à hora da nossa morte. Porque me arrependo do abraço
que não te dei e que talvez esperasses de coração nas mãos como
eu sempre esperei o teu em cada segundo.
Porque me arrependo de todos os beijos que não te roubei nos dias em que
os lábios nos secavam por falar demais da boca para fora.
Da alma para dentro ficaram demasiados beijos e abraços que,
hoje, me fazem falta com a mesma urgência de ontem.
Arrependo-me do tudo que não fiz, do amor que não te disse e não te ouvi,
e lamento as horas que perdi calada, desencontrada de mim em ti.
E, acima de tudo, arrependo-me do momento em que fiquei surda à voz do coração,
emaranhada na razão que julguei que tinha, porque sei que enlouqueci no dia
em que troquei o coração pela minha razão contra a tua, porque sem ti
descubro que ter razão e o coração frio é a morte.
E eu escolho a vida, amar-te como sempre amei,
por instinto e sem razão nenhuma.