Simplicidade
A vida de muitas criaturas, além de desvitalizada,
é circunstanciada por miudezas dispensáveis, desperdiçada com detalhes
desnecessários. A simplicidade traria
enormes benefícios para elas, as tiraria do cativeiro dos valores
estabelecidos pelas convenções arbitrárias, lhes clarearia a visão e
lhes traria mais leveza e tranqüilidade existencial.
Acumular
informações sem pensar, se atopetar de pertences, entulhar roupas e
abarrotar a casa de coisas supérfluas é uma característica muito
difundida na sociedade moderna.
À medida que novos elementos se
somam aos bens físicos e intelectuais já adquiridos, passamos a
alimentar a compulsão de armazenar ainda mais coisas, levando-nos a agir
em função de uma suposta vantagem imediata, sem analisar as utilidades e
conseqüências futuras dessa prática.
Muitos indivíduos, equivocadamente, associam simplicidade com pobreza,
mas existe uma diferença fundamental.
A simplicidade é uma opção de vida tanto do rico como do pobre,
enquanto que a pobreza é, por si só, a privação de valores morais,
intelectuais e espirituais de um indivíduo, e não necessariamente, a
falta de recursos materiais para a sua subsistência.
Quando nos
livramos de tudo que é inútil e secundário, passamos a tomar consciência
do que verdadeiramente temos e do que precisamos. Abrir mão dos
trastes, de informações desnecessárias e de objetos em desuso exercita o
desapego e facilita-nos a libertação dos ecos do passado. A partir
disso, somam-se novas concepções, e as velhas mágoas, as culpas, os
ressentimentos, os conflitos se dissipam, habilitando-nos a viver
plenamente o momento presente.
Os homens simples se comunicam com
sabedoria e humildade, enquanto que os complicados falam com presunção e
pedantismo, são enfadonhos e prolixos, por que estão repletos de idéias
ultrapassadas; contam e recontam seus discursos e mesmo assim parecem
não dizer nada.
A simplicidade de alma induz o indivíduo a se
expressar com clareza, segurança e objetividade. Capazes de elaborar
idéias de forma lógica, coerente e harmoniosa, tais pessoas resumem tudo
o que querem dizer por meio de expressões sintéticas.
Quem se
apartou da simplicidade vive na futilidade dos seus pensamentos, com
entendimento entenebrecido, alienados da vida de Deus pela sua
ignorância, por isso coleciona coisas neuroticamente, acreditando numa
ilusória segurança, mas esquecendo que não pode encontra-la fora de si
mesmo, muito menos por trás de um amontoado de conceitos, informações,
acessórios e pertences sem serventia.
Buda ensinava: se você não conseguir em si mesmo, onde irá buscar?
Muita coisa no mundo da erudição é tida como formação cultural, quando,
na verdade, nada mais é do que entulho intelectual.
Aquele que ignora seu nível de necessidade legítimo, determinado por
sua realidade profunda, vive sobrecarregado pelo peso da repressão
sociocultural, se distancia da simplicidade e perde a própria
identidade.
Muitas vezes, nossas agendas internas se abarrotam e
entram em colapso com nossos ritmos interiores. Sentimo-nos exauridos
porque estamos fora de sintonia com a simplicidade. Abrir mão de posses
desnecessárias é ir ao encontro de uma vida pacífica e harmoniosa.
Muitas criaturas se abarrotam impensadamente das instruções obtidas nos
jornais, na televisão, nas salas de aula, nos livros, como sendo
verdades absolutas. Essas informações podem muito nos ajudar, desde que
não as elejamos como a verdade. A verdade não está na conceituação das
palavras ou textos que lemos, mas nas experiências que podemos ter com
ela, e a partir dela.
As vozes inspirativas da alma são providas de síntese e simplicidade,
que a Vida Providencial murmura em nossa intimidade.
A simplicidade consiste em não ficar distante do que é natural e
espontâneo, uma vez que aqueles se afastam dela ficam com entendimento
entenebrecido e alienados da vida de Deus.
UM MODO DE ENTENDER, UMA NOVA FORMA DE VIVER
Francisco do Espírito Santo Neto – Espírito Hammed