Recordo flores que eram
ideias cheias de cor
e ideias que nunca se tornaram flores.
Recordo
flores que segurei na alma à procura de casa
e que ficaram à porta
rejeitadas como ervas daninhas.
Recordo a noite que me chegou no
instante em que,
sem terra nem semente, me atiraram ao chão.
Recordo
flores que apanhei pelo caminho
e levei para casa com a pressa de quem
tem um beijo urgente para dar.
Recordo a urgência que não encontrei nos
lábios que
tanto eu queria beijar. Recordo sinais e prenúncios de fim
e
tudo o que me desacreditava preferi ignorar.
Recordo um jardim inteiro
que definhou
à falta de água por preguiça de regar.
Recordo Amor, que acreditei de pedra e foi de vidro,
julgado e condenado.
Recordo a primavera e toda a luz do infinito
em mim sacrificada ao passado.