E o tempo ultrapassa-me e de nada adianta correr contra ele.
Mais forte do que o vento forte, o tempo ultrapassa tudo, sonho e realidade.
De tudo quanto fui, quardo o que posso num baú imaginário,
como quem segura o que sente por dentro como alma.
O que sou, construo todos os dias como quem quer muito aprender a melhorar.
Do que serei amanhã e nos dias por vir só posso trabalhar
a ideia do que gostaria que fosse, como quem sonha uma bola colorida
onde cabem todos os sonhos do mundo e o mundo também.
Mas o tempo corre mais depressa do que a vontade e do que sonho.
O tempo corre mais depressa do que a vida. E eu, como toda a gente,
sou apenas um esboço de inúmeras possibilidades.
Sou sonho e coisas concretas, memórias e ideias, passado, presente e futuro.
E sou também o tempo que me ultrapassa quando me deixo ficar imóvel
nas horas a que nada acrescento para além do meu petulante aborrecimento
e falta de assunto. E sou também a vida que quer o tempo por inteiro,
sem desperdício. E quero encontrar-me e acertar o passo, como quem
acredita que não há tempo a perder.
Tem de ser o que estiver para ser e tem de ser agora.