E à noite os pensamentos ganham uma velocidade
diferente, tudo se passa
mais depressa, fundindo-se passado,
presente e futuro. De manhã, quando acordo,
tenho impressão que já vivi este presente,
ou que o passado se
repete e, á força da repetição,
tornou-se presente com o á-vontade da
visita de um velho amigo.
E as ideias e pensamentos sucedem-se num
perpétuo movimento
que não sei interromper, nem sei se devo, talvez não.
Tudo tem de acontecer na altura devida e,
por pouco sentido que façam
os dias sem tempo verbal definido,
tenho de deixar acontecer o que estiver para ser.
O destino, como lhe chamam,
não acontece nem antes nem depois,
independentemente da nossa vontade.
O passado que volta a ser presente
não garante segundas oportunidades.
A velocidade que encontro á noite,
de um pensamento ao outro,
é excessiva, comporta a vertigem que esbate a
noção de tempo.
Tudo o que tenho a fazer é viver o momento
em tempo real, só e apenas isso. Amanhã
é sempre longe demais mas não
vou andar mais depressa que o pensamento,
nem mesmo nos dias em que a incerteza esvazia
o coração do sangue que o mantém vivo.