Seria mais fácil ser igual a toda gente e não querer mais do que os demais.
Mas não quero tornar-me uma vulgar história de amor desfeita não sei
como nem porquê. Não quero pensar-me igual a todas essas histórias que
se contam por aí como troféus de vida, em que tudo acaba e,
orgulhosamente, se exibe o fim do que, um dia, se acreditou infinito.
Não quero ser esse momento de desencanto absoluto e desamor evidente dos
que perdem tudo e destroem o que sobrar. Não quero ser comum e fazer
conversas de passado aligeiradas de conteúdo como se quem viveu como
pele da minha pele perdesse essa importância que o Amor lhe vestiu um
dia. Não quero ser a vulgaridade de ter uma história para contar. Não
quero ser banal e dizer que, na minha história de amor, não fui "feliz
para sempre", que tudo é passado e que para frente é caminho. Para a
frente só é caminho pela esperança acarinhada no porvir, porque podemos
acreditar que o melhor está para vir, fantasiar a perfeição, iludir-nos e
enganarmo-nos a nós mesmos para encontrar a paz de espírito e o perdão
que nos procuramos. Mas eu não quero isso para mim. Quero assumir que
chorei, que lutei e que perdi. E, nesse desaprumo, celebrar-me pelo que
sei sentir em mim, o Amor apesar de tudo. Quero a dignidade dos que
perdem acreditando sem desistir antes da meta. Não quero a cobardia
dos que afirmam que o Amor se desfaz como um castelo de areia à
beira do mar. O Amor vive na alma e a alma que alberga o Amor é uma
fortaleza que, talvez, nem a morte, saberá derrotar.